Um dia, bem cedinho, seu Raposa andava pelo bosque. Ao
passar perto de um rio, viu uma quantidade enorme de peixes nadando.
Entusiasmado, ele começou a pescar. Eram tantos ospeixes, e seu Raposo estava
tão esfomeado, que em pouquíssimo tempo pescou três lindastraíras.Muito alegre,
foi para casa e disse à mulher, ao chegar:- Dona Raposinha, olhe só a sorte que
tive hoje!- Oh! Que traíras enormes! ± exclamou dona Raposa, já com água na
boca.- Pois é. Eu como uma, você outra e ainda vai sobrar uma...
Por isso, eu
pensei em convidar seu Tigre para almoçar; é sempre bom agradá-lo...- Você é
quem manda, querido Raposo. Vou fritar com muito cuidado essas traíras. Vão
ficar deliciosas! Ande, vá convidar seu Tigre!Seu raposo esfregou as mãos
satisfeito e saiu em busca de seu Tigre. Dona Raposa sepôs a preparar os
peixes. Quando ficaram bem fritos, o cheiro era tão apetitoso que ela murmurou:-
Vou experimentar minha traíra para ver se ela ficou boa de sal. Só um pedacinho
de nada, pois ia ser bem chato se eu a comesse inteira antes de seu Raposo
chegar com o convidado! Ela começou a beliscar o peixe e achou-o tão saboroso
que se esqueceu do que havia dito. Empoucos segundos o prato ficou limpo.-
Estava deliciosa!
Agora preciso experimentar a do Raposo; ele é muito delicado
e, se sua traíra não estiver bem frita, com certeza vai ficar zangado!Comeu a
cauda torrada, depois uma das barbatanas, a seguir a cabeça e, quando percebeu,
toda a traíra de seu Raposo havia desaparecido.- Meu Deus, comi inteirinha! ±
ela exclamou. ± Mas, agora, o estrago está feito. Então não faz mais diferença
se eu comer também a última! E, do mesmo jeito, comeu a última traíra.
Por fim,
chegou seu Raposo, acompanhado de seu Tigre, e perguntou à mulher:- Preparou as
traíras?- Claro que sim! Ainda estão no fogo para que não esfriem ± ela
mentiu.- Sirva logo, porque estamos com muito apetite. Não é verdade, seu Tigre?-
Sem dúvida, seu Raposo. Eu, pelo menos... E com esse cheirinho de peixe frito
que há por aqui...- Vou pôr à mesa ± disse dona Raposa. ± Sente-se ali, seu
Tigre. Aquele é o seu lugar.- Obrigado, dona Raposa.Seu Tigre sentou-se e Dona
Raposa chamou o marido de lado.-
Vá até o quintal e afie bem as facas, pois as
traíras eram muito velhas e ficaram duras demais ±ela falou.Seu raposo correu
até o quintal, e dali a pouco podia-se ouvir o barulho que faziam as facas
contra a pedra de amolar.Dona Raposa se aproximou de seu Tigre e lhe disse:-
Você está ouvindo? É meu marido que está amolando uma faca. Ficou louco e meteu
na cabeça que quer comer suas orelhas, seu Tigre; para isso é que ele trouxe
você até aqui. Fuja logo, antes que ele volte, por favor!Seu Tigre se assustou e
saiu da casa a todo vapor.
Então, dona Raposa começou a gritar:- Seu Raposo, seu
Raposo! Venha logo, que seu Tigre fugiu levando todas as traíras! E seu Raposo,
com uma faca em cada mão, começou a correr atrás de seu Tigre, gritando:- Seu
Tigre, seu Tigrinho! Me dê pelo menos uma! E o Tigre, achando que seu Raposo se
referia às suas orelhas, apertou o passo, morrendode medo, e não parou até
estar bem fechado e seguro em sua casa.